Reza a lenda que quando eu tinha uns 5 anos, ou menos, a minha avó resolveu deixar os seus cabelos brancos. Só que eu me assustei tanto, que ela resolveu pintá-los de novo. Pelo menos até que eu fosse um pouco maior.
Ano de 2021.
Eu não só assumi meus brancos com o cortei meu cabelo bem curto. E fui bombardeada por todos os lados (por pessoas conhecidas).
Está com cara de velha…
Está desleixada….
Seu marido vai te deixar…
O corte não ficou legal….
Até meu filho de 5 anos protestou. Disse que meninas não tem cabelo curto e que por isso eu preciso deixá-los crescer.
Foi inevitável não se lembrar da história da minha avó. E é inacreditável como décadas depois a pressão é a mesma. Nada mudou. Somos constantemente lembradas de que não podemos ser nós mesmas.
Eu não posso mudar a opinião da maioria das pessoas que jogaram criticas ao vento e ensiná-los de que se não tem nada de construtivo para se falar, melhor se calar. Mas me fez pensar no que eu quero que meu filho aprenda.
Porque está claro que o ambiente (além do familiar) exerce uma influência invisível que a gente nem sente. E eu não quero fazer como a minha avó que ficou presa a um padrão de beleza apenas para agradar a neta.
Eu não quero que meu filho cresça, achando que cabelo curto e branco não é normal. Ou que é coisa de velha.
Que envelhecer não é normal e precisamos esconder
Eu poderia deixar o cabelo crescer? Sim. Quem sabe um dia. Posso pintar de novo? Talvez, se tiver vontade. Mas ouvi-lo pedir com tanta insistência, ascendeu em mim a chama da resistência. Porque nenhuma garota precisa se adequar ao que o outro acha ideal. Nem que esse outro seja seu próprio filho.
Ah!, e quanto aqueles que “brincaram” dizendo que meu marido poderia me largar, só lamento. Mas pelos seus pares. Imagino a tortura que seja viver ao seu lado fingindo ser outra pessoa só para te fazer “feliz”.
Porque ser fiel a si mesma é um ato de resistência. É para poucos. Para os bravos. Principalmente nos dias de hoje.