Pessoas & Pessoas

Há alguns dias eu conheci uma pessoa tão fantástica que me fez tentar classificar todos os que já passaram pela minha vida. Sei que essa palavra “classificar” soa mal, mas uso aqui no bom sentido. Foi uma forma de entender o impacto que determinadas pessoas tiveram na minha vida. Fiquei surpresa com o resultado.Vejam alguns grupos:

O primeiro grupo é o de pessoas que passaram por mim sem deixar nada. Pessoas cujos rostos e nomes não me recordo. Neste grupo estão também aquelas que meu marido precisa me apresentar várias vezes (ou me relembrar várias vezes). Não sei o que é. Mas eu simplesmente não consigo lembrar delas. É como se uma borracha fosse passada, apagando tudo. Talvez isso aconteça porque elas não significaram nada para mim, não interagimos o suficiente ou, quem sabe, eu não tenha me esforçado para estabelecer um contato mais profundo. Essas pessoas são rostos, desconhecidos, em branco.

O segundo grupo é o das pessoas que eu preferia não ter conhecido, intragáveis. São as que eu me obrigo a manter uma relação no mínimo educada. É aquele tipo de pessoa que se eu encontrar na rua, farei de tudo para fingir que não vi. São as que me fazem mal. Mas o lado bom é que elas são meu elo com o mundo real. Tiram-me da terra da fantasia e lembram-me a todo instante que nem tudo é como eu quero e desejo. Elas me trazem maturidade. 

O terceiro é o grupo dos pseudo-extrovertidos. São aquelas pessoas que você encontra por aí que são super extrovertidas, simpáticas, prestativas, falam pelo cotovelo mas, no fundo no fundo, se você analisar bem, perceberá que não sabe muita coisa sobre ela. Você acha que fez amizade, você acha que foi algo profundo, mas na verdade foi bem superficial. Serviu apenas para aquele momento. Provavelmente se eu perder o contato com uma pessoa desse grupo, não sentirei grandes saudades  ou uma vontade louca de reencontrar. Se por acaso o destino fizer com que nossos caminhos cruzem, ficará uma coisa estranha no ar. 

Pessoas misteriosas é o quarto grupo. São aquelas que para você se relacionar, é necessário vencer certas etapas, como um jogo. A cada fase, uma revelação. Não que elas façam isso de propósito. Acho que é apenas um mecanismo de proteção. Mas por incrível que pareça: é muito mais fácil relacionar-se com pessoas desse grupo do que com as do grupo dos pseudo-extrovertidos. Você sempre sabe exatamente onde está pisando e com quem está lidando. Diferentemente do grupo acima, caso perca o contato com essa pessoa, ficará uma saudade boa. Ao reencontrá-la tudo ficará como antes. Afinal de contas, o relacionamento foi conquistado. O valor dado, não se perde.

Outro grupo é o dos inesquecíveis. Nela estão as minhas pessoas mais queridas. Independetemente do tempo que tenham convivido com você, marcam tanto que podem se passar anos sem contato que, quando se encontram, parece que o tempo não passou. Aqui também estão aqueles que encontramos pouquíssimas vezes em nossa vida (ou até uma vez) mas que nos deixaram uma impressão tão forte, que sempre será lembrada. Você pode até não se lembrar do seu nome, mas com certeza não esquecerá da marca que ele deixou em sua vida.

Quanto àquela pessoa que conheci, enquadrei-a no grupo dos “inesquecíveis”. Ele foi o responsável pelo projeto e pela execução do Plano de Transição do governo de FHC para o de Lula. Uma pessoa extremamente inteligente, mas de uma simplicidade tocante. Apesar de eu ter “babado” ao ouvir seu relato sobre a elaboração e implementação do plano, posso afirmar, com segurança, que o que mais chamou a minha atenção foi a sua capacidade de conferir aos seus hobbies importância equivalente ou superior ao seu trabalho. Para ele cozinhar, fazer aulas de tai chi chuan, ler, escrever, dentre outros, são partes fundamentais dele, enquanto pessoa, e por isso mesmo essenciais para fazê-lo feliz.

Assim como eu, talvez existam outras tantas pessoas que deixaram no trabalho e nas relações pessoais todo o peso para garantir a felicidade e satisfação. Nessa semana, descobri que existe uma terceira via. Além disso, ao brincar de classificar as pessoas que passaram na minha vida, me dei conta de que provavelmente fui uma folha em branco ou uma intolerável ou pseudo-extrovertida na vida de alguns. É, pode ser. Isso indica que eu tenho olhar um pouco mais em volta. Mas saber que você conseguiu ser inesquecível na vida de uma só pessoa, já compensa tudo. Faz tudo valer a pena. 

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