Falando sério.

Um usuário do facebook lançou uma campanha que está mexendo com o Vaticano: “Cambio tesoro del Vaticano por comida para a Africa, te apuntas?. O vídeo da campanha é bem chocante. Por alguns segundos, você consegue visualizar a dura realidade daquele continente. Realidade esta que, na dinâmica do nosso dia a dia, facilmente esquecemos.

Em época de gripe suína, acho essa campanha bastante pertinente. O continente africano continua matando muito mais pessoas por fome, Aids e outras doenças por minuto do que esta nova epidemia. Aqui, sou obrigada a relembrar a minha última crônica sobre o Nordeste. Por ser composto em sua totalidade por pobres, sem nenhuma influência política e por ser um continente estraçalhado, ninguém liga para a África. Dos cerca de 50 países falidos existentes no mundo, a maioria está na ali. Bem, você deve estar se perguntando sobre o que é um Estado falido. Não existe um consenso entre a comunidade científica sobre a correta definição. Mas uma publicação do Fundo para a Paz, intitulada de “Índice dos Estados Falidos”, trabalha com 12 indicadores Sociais, Econômicos, Militares e Políticos. Os Estados são classificados como “críticos”, “em perigo” e “no limite”. Essa classificação, no entanto, não é estática. Os Estados podem se mover de uma a outra a depender da situação em que se encontrem. O Fundo para a Paz entende que Estado Falido é aquele cujo governo perdeu o controle físico do seu território ou o monopólio legítimo da força. Outros sintomas do fracasso são a erosão da autoridade para tomar decisões coletivas, a incapacidade de oferecer serviços públicos razoáveis e a perda da faculdade de manter as relações formais com outros Estados como membro pleno de direito na comunidade internacional. Outras características típicas do Estado Falido são a corrupção generalizada, a incapacidade de arrecadar impostos, os grandes deslocamentos involuntários da população, a rápida queda da economia, a desigualdade entre os grupos e as discriminações institucionalizadas. Um Estado em vias de fracassar pode padecer de violência ou simplesmente ser propenso a ela. Na África, o Sudão é o mais vulnerável do mundo devido a suas condições de injustiças coletivas e direitos humanos. Depois temos a República Democrática do Congo e a

Costa do Marfim, cujos governos não controlam grandes zonas dos seus territórios. Contudo, também não há um consenso sobre isso. Em pleno século XXI cerca de dois milhões de pessoas vivem em países inseguros. Na República Democrática do Congo ou na Somália a situação é mais visível há anos e se manifesta nos conflitos armados, crises de fome, surgimento de doenças e fugas de refugiados. No entanto, em outros casos a instabilidade é mais difícil de ser comprovada. Muitas vezes os elementos corrosivos não foram transformados em hostilidades visíveis e as pressões estão encobertas.

Apesar da maior parte dos Estados frágeis estarem na África, eles também estão na Ásia, Leste Europeu, América Latina e Oriente Médio. E os problemas encontrados nesses países muitas vezes não ficam restritos aos mesmos. Eles são exportados (a exemplo dos refugiados e tráfico de drogas) e afetam diretamente a economia internacional. A história está repleta de casos em que o país mais forte se vê obrigado a intervir em países instáveis. O caso mais clássico é o Plano Marshall. Após a II Guerra Mundial a Europa estava arrasada economicamente e os Estados Unidos se encontravam no seu auge econômico. Era vital auxiliar na reconstrução da Europa para evitar que o dinamismo norte americano se estancasse. Além disso, o Plano Marshall também era visto como um plano de segurança nacional para os Estados Unidos, uma vez que ele impediria a expansão do comunismo (com idéias opostas ao regime capitalista) pela Europa. Esse foi o caso de cooperação internacional mais bem sucedido no século XX, sem grandes condicionalidades, possibilitando que os países europeus buscassem fórmulas próprias para o desenvolvimento. Após esse período não tivemos nenhum projeto de cooperação internacional que se assemelhasse ao Plano Marshall, seja na quantidade de países beneficiados ao mesmo tempo, seja na verba disponibilizada ou na autonomia que os receptores tiveram para utilizá-la.

Seria o caso dos Estados se inspirarem e colocarem em prática um plano como esse, principalmente no caso da África. Mas diferente do contexto pós II guerra, a situação da África ainda não ameaça ninguém. Está localizada e restrita.

Retornando ao caso da campanha sobre a troca do tesouro do Vaticano por comida, houve uma polêmica muito grande. O Vaticano logo apressou-se em dizer que, devido a restrições do Direito Internacional, ele não pode vender os seus objetos de arte para ajudar. No entanto, eu acho que o autor dessa campanha quer muito mais. Acredito que o seu maior desejo é fazer com que o Vaticano, um grande ator e, ainda, respeitado por muitos países, use um pouco da sua influência nessa causa e faça com que o mundo perceba que a África importa e vale a pena.

1 thought on “Falando sério.”

  1. Concordo com o que diz sobre a situação na África, deplorável na maioria dos países, no limite mesmo.
    Discordo quando compara com o Nordeste brasileiro, especialmente no ponto da não influência política. No Brasil a região com maior número de estados e, portanto, com grande influência política é o Nordeste.

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