Como meu pai

Uma vez meu pai me contou que assim que minha mãe engravidou da primeira filha, ele resolveu parar de fumar. Ele disse que não queria que nenhum filho o visse fumando. Disse também, que depois desse dia nunca mais colocou um cigarro na boca. No entanto, quem o vê falando dessa forma tem a falsa impressão de que foi fácil largar o vício. Ledo engano. Por muitos anos, meu pai viu-se perseguido em seus sonhos por cigarros falantes implorando para que ele voltasse a fumar. No mundo real, há poucos anos ainda via-se inebriado pelo odor dos charutos e tentava-se convencer a não ceder.

Pergunto-me quão frequentes situações como essas acontecem conosco. Não precisa ser um vício, em particular. Pode ser algo que simplesmente queremos evitar. Há umas duas semanas me vejo nessa situação. Por quase dois anos resolvi bloquear um assunto de minha mente e, consequentemente, da minha pauta de conversa. Nada dramático, proibido ou escandaloso. É um assunto que simplesmente não me traz boas recordações. Parece pirraça, mas a cada dia desses dois anos, quanto mais eu me esforço para esquecer, mais a vida se esforça para me mostrar. Se minha família e amigos são camaradas o suficiente para não tocar no assunto, vejo-me em uma “sinuca de bico” no trabalho, no barzinho ou até mesmo no prédio onde moro, enquanto espero o elevador chegar. O dito assunto sempre vem à tona. A minha reação diante dele varia. Mas sempre começa com um susto (sim, ainda não me acostumei). Na maioria das vezes controlo minha expressão e, na maioria das vezes retiro do meu banco de dados uma resposta para a questão. Nessa semana mesmo, acho que já respondi de duas formas diferentes (rssss).

Bem, o que isso tem a ver com a história do meu pai? Nós dois temos medo. Ele tem medo de voltar a fumar e não parar mais e eu tenho medo de encarar o que realmente sinto e quero.  A única diferença é que ele é mais corajoso do que eu. Apesar do medo, conseguiu descobrir o seu limite. Até onde pode ir, sem ceder ao vício de novo.

Sei que da forma como escrevo, a questão fica um tanto subjetiva. Talvez o mini-curso de filosofia que eu estou fazendo esteja contribuindo para isso. Mas o fato é que eu tenho que concordar com aquele bordão: “as respostas que buscamos estão sempre dentro de nós”. O problema é que nem sempre queremos encontrá-las de verdade. O motivo é sempre o mesmo: Medo de encarar a realidade. 

Este post é o primeiro passo, em dois anos, em que tento querer saber qual a resposta que está dentro de mim. Não é fácil e não sei se será agradável. Provavelmente levarei um bom tempo, quem sabe anos, tentando. Mas optei por tentar encarar, como o meu pai. 

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