O tempo passa para mim também, eu sei. Estou envelhecendo, mudando, tenho dois filhos que crescem a passos galopantes, mas de certa forma estou tão absorvida no dia a dia que não percebo. Além disso, dentro da minha cabeça, eu continuo sendo a mesma. Porque como dizia o meu avô, a mente não envelhece. Só o corpo.
Então ficamos relembrando de coisas que parecem ter acontecido em outra vida, como os pequenos gestos que nos marcaram. Ou apenas frases. Em uma época onde não era comum se abrir com os nossos pais e tudo o que tínhamos era o apoio uma da outra. E então uma enxurrada de memórias vieram à tona. Sobre como descobrimos o mundo caçando por informações que hoje são tão acessíveis pela internet. Sobre como, sem saber, criamos uma rede de suporte para encarar os conflitos da adolescência e início da vida adulta. Sobre como as amizades são forjadas. Sobre como elas moldam uma vida. Sobre como elas fazem ser o que somos.
Em muitos momentos nossos caminhos tomaram outros rumos, ficamos meses sem se falar, anos sem se ver, mas ao ouvir a sua voz, era como se eu fosse tele transportada ao passado. Mais de trinta anos se passaram, já somos quarentonas, mas é como se fôssemos de novo duas garotinhas conversando, sem filtros, sem medos, sem reservas. Ela, muito mais centrada, ponderada, como sempre foi, e eu sendo apenas eu. Falando tudo o que vem na telha.
Talvez você não entenda como esses momentos são importantes. Depois que “crescemos” somos obrigadas a desempenhar tantos papeis (mãe, esposa, funcionária, chefe, colega). Aprendemos tanto sobre a forma correta de se comunicar, como se posicionar, se portar. Precisamos ter tantos cuidados com o uso da palavra, com as ações e como ser um exemplo para os nossos filhos. Que ter um momento, onde você possa expressar uma parte sua que está guardada bem no fundo, e ser apenas você, na sua essência (com suas inseguranças, imaturidades, fragilidades, deixando de lado todos os rótulos e bagagens que você adicionou à sacola durante todas as décadas da sua vida), é um presente e tanto. É como resgatar um pequeno tesouro que estava perdido. É exercitar a leveza no seu grau mais elevado. E cá entre nós. Pensando bem, acho que esse é um poder que apenas as amizades de infância têm.