Era um dia como outro qualquer. Acordei com as crianças em cima de mim, disputando espaço, para ver quem ficaria mais perto. Instintivamente fiquei de mal humor. Era muito cedo. Olhei para o lado e o pai continuava dormindo, intocado. Não era justo, pensei.
⠀
Fechei meus olhos para contar até dez. Precisava me acalmar. Foi então que senti uma mãozinha pequena no meu rosto. Tomei um choque. Mas um choque bom. Sabe quando parece que seus sentidos estão aguçados e os dedinhos que te tocam são mais do que dedos? Era como se eu estivesse sentindo o toque pela primeira vez. Depois, uma mãozinha um pouco maior, repousou sob minha cabeça seguida por um beijo. Senti aquilo de novo . O sono já tinha ido embora. O mal humor também, mas mantive meus olhos bem apertados, tentando guardar aquele momento, aquela sensação. Porque é fácil surtar quando parece que o tempo não passa. Quando repetimos a mesma rotina, dia a dia. Quando empacamos em um projeto. Quando perdemos um trabalho. É fácil surtar quando perdemos a perspectiva. Mas aqueles toques… Ah, aqueles toques! Eles me traziam de volta a realidade. Me firmavam no chão. E me lembravam de que eu ainda estava aqui. Com eles. Em casa. Presente.
⠀
Abri meus olhos e vi que meu marido ainda dormia, intocado. E pensei de novo que não era justo. Mudei minha posição, cheguei mais perto o que obrigou os meninos a se reposicionarem: um do meu lado e o outro praticamente em cima do pai. Pronto, pensei. Agora sim, todos os toques devidamente distribuídos. Almas devidamente recarregadas. Estávamos prontos para começar um novo dia.
⠀