Só quem já saiu do aconchego do lar, deixando para trás as memórias que marcaram uma vida, os cheiros, sabores, entende as dores de quem precisa redescobrir um novo mundo, ainda que dentro do mesmo país.
Lembro do dia em que me mudei para a Cidade Maravilhosa. Achei que seria tranquilo, afinal, já tinha morado na Espanha e viajado por outros cantos desse mundo. Toda cheia de mim, crente que o Rio seria uma extensão da minha cidade natal, até descobrir que não falávamos o mesmo idioma.
E não falo do sotaque. Falo das palavras, expressões, sabores, modos, toques. Tudo era diferente. Me senti uma estrangeira dentro do meu país e descobri que existiam vários “Brasis” dentro do mesmo Brasil.
Demorou para me adaptar. Talvez porque eu tenha me afogado na minha própria ignorancia achando que o vem de fora é mais difícil do que o que temos por aqui. Ledo engano.
Por isso me emocionei com o texto de Vanessa Libório . Sem perceber, transportei para o livro uma experiência que julguei esquecida. Mas que tola sou. Afinal para o escritor nada é omitido. Tudo é transmutado, ressignificado. Aquela experiência, que um dia tanto me apavorou, se dissipou por entre as linhas gastas, ganhando novos contornos e sentidos.